terça-feira, 11 de junho de 2019

Pintando

(Com Mestre Senior Julio Camacho e Clayton Quintino. Condomínio Península, 2019)

Sempre gostei de pintar. Lembro de ainda criança acompanhar meu pai nas pinturas de nossa casa, sempre com muita disposição, mas pouca habilidade. O que resultava em algumas broncas e um mau humor que durava dias.

Não sei dizer qual foi a primeira vez que pintei o Mo Gum, mas afirmo: a maior parte do meu Kung Fu foi construído por meio de um pincel.


(Patriarca Moy Yat)


Em várias das minhas experiências de pintura tive a oportunidade de ter Si Fu perto. Na verdade, ele estava me orientando diretamente. Isto contribui para um certo desenvolvimento técnico e, mais que isso, uma legítima experiência marcial.

Quem já teve a oportunidade de pintar sabe do problema que estou falando. Preparar o local antes de tudo é fundamental. Entender a medida certa de diluição e saber empunhar o material são componentes que ajudam a garantir uma boa pintura. O passo a passo não é difícil decorar, a dificuldade é interiorizar todos esses processos de modo que aconteçam naturalmente e, portanto, possam extrapolar a pintura fazendo parte da maneira da pessoa agir.


(Com Mestre Senior Julio Camacho, Si Mo e irmãos Kung Fu. Condomínio O2, 2019.)


A maneira como Si Fu me orienta está carregada de “espírito marcial”. Para mim isto significa que cada gesto deve ter consequência equivalente ao cenário de guerra. Por isso, a cada gota de tinta que cai no chão desprotegido, a cada material perdido, seja por desleixo ou incompetência, Si Fu chama minha atenção de maneira muito enérgica. Não há espaço para erros, por menores que sejam. 

Lembro das sensações que vivo nestes momentos. Uma delas é um medo tão grande que me trava, e consequentemente faz cair drasticamente meu desempenho. Quando Si Fu percebe minha fraqueza ele “golpeia” cada vez mais forte, não me dando espaço nem mesmo para respirar. Nesses momentos sei que ele percebeu minha fraqueza, por isso levanto a cabeça e sem pensar continuo tentando como se minha sobrevivência dependesse de não desistir. Neste momento já não importa se estou com medo, se tenho ou não habilidade para executar a tarefa. Neste momento eu entendo que o que tenho que fazer é o meu melhor. 

O curioso é que à medida que o tempo passa, cada vez menos tomo bronca, e tenho a sensação clara de que não preciso delas para encontrar em mim meu “espírito marcial”.

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