sábado, 22 de junho de 2019

Posicionamento

(Mestre Sênior Julio Camacho, Núcleo Barra)


As facas são instrumentos que servem para matar. Também por isso eu entendo que seu uso acontece no final do sistema. É preciso ter muita experiência em simbolizar o combate para transmutar a natureza de morte em algo simbólico e a partir daí ter um estudo de alto nível da morte simbólica.


(Estudo de Baat Jaam Do, Núcleo Barra)


Quando estamos estudando as facas, fica clara a necessidade de usá-las como extensão do braço. Todo o restante do corpo deve ficar por trás. Neste nível não se hesita. A cada gesto há uma “morte”, seja do seu oponente ou a sua, por isso é importante estar em guarda.


(Mestre Sênior Julio Camacho)


Nesta semana tive uma experiência bastante significativa com Si Fu. Estávamos na sua antiga casa, e eu havia guardado seus documentos em uma caixa para facilitar seu transporte. Apesar de antes de guardá-los eu ter enviado um WhatsApp para ele questionando se queria que assim eu fizesse, não aguardei sua resposta. Achei que por conta da urgência de sua mudança não deveríamos perder tempo. Para mim, naquela hora aguardar sua resposta seria perder tempo.

Quando Si Fu chegou em sua casa, questionou onde estava seu passaporte. Eu o havia guardado em uma caixa que se misturou às outras. Em outras palavras, não sabia onde estava.

Mais uma vez Si Fu me pergunta onde estava o passaporte. Suando frio, eu não conseguia falar. As palavras embolavam em minha boca. No fundo, estava mais preocupado em explicar o que havia acontecido do que responder à pergunta dele. Claro que ele não queria ouvir a explicação. Ele me perguntou mais algumas vezes onde estava o passaporte, e eu não sabia responder e também não sabia expressar que não sabia responder. 

Esse processo durou alguns minutos. Para mim foi uma eternidade, mas o mais marcante foi sua postura. Eu e Si Fu estávamos de pé, Si Fu me olhando fixamente, e eu a todo momento desviava o olhar. Seu corpo estava relaxado apesar de sua expressão dura, eu transbordava tensão até pela voz. Suas mãos estavam baixas, as minhas entrelaçadas e postadas à frente, numa atitude clara de separação. Queria fugir dali.

Suas mãos baixas me marcaram. Para mim é óbvio que estávamos “lutando”. Luta diz respeito a golpear e ser golpeado. Si Fu estava inteiro naquele cenário, disposto a “matar” ou “morrer”, e eu só queria que aquilo acabasse.

Essa, sem faca alguma nas mãos, foi minha maior experiência de Baat Jaam Do, tanto por ter de arcar com a consequência de minha decisão quanto por minha postura diante da consequência.

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